Desde que retornei com o blog sinto necessidade de falar um pouco mais sobre saúde mental por aqui. Eu quase não conheço blogs que falam sobre depressão e transtornos mentais. Conversando com algumas pessoas no Facebook, percebi que a maioria buscava relatos fora do padrão "bula de remédio": não é difícil descobrir o que é a depressão, clinicamente falando, mas poucos contam suas experiências. Talvez por medo dos julgamentos que certamente virão...

Nunca fui uma criança de muitos amigos, embora falasse com as pessoas, não criava vínculos facilmente com ninguém - e ainda sou assim. Nunca brinquei com outras crianças na rua e logo cedo a vida me apresentou a cara da morte, levando pessoas que eu amava. Aos 13 anos eu fiquei alguns meses sem frequentar a escola, tive um "surto" e passava horas no quarto sozinha, com meus livros e CDs.

Todo mundo tem dias de cão. Aquele dia em que tudo que você quer é sumir ou se afogar num balde de sorvete. O problema é quando a tristeza começa a podar sua vida. Eu vi minha vida desabar e procurava diversas válvulas de escape. Antes de completar a maioridade nada foi feito para descobrir o motivo da minha tristeza além de qualquer limite considerado normal para a adolescência. 

Não é fácil a decisão de procurar ajuda médica. Eu só procurei quando fui parar no hospital numa crise, perto do Natal, e não sabia dizer ao médico o motivo de eu estar ali, apenas desabei e disse que queria morrer. Voltei pra casa com alguns calmantes e uma parte de mim preocupada com o que eu seria capaz de fazer dali em diante.

Pode demorar muito até que você encontre um profissional (psicólogo ou psiquiatra) que entenda sua situação, com quem você se sinta bem o suficiente para conversar sobre sua dor. Não basta falar, é preciso ser ouvido. Procurei diversos profissionais e sempre acabava abandonando o tratamento por achar que eu já estava "curada". Passava um tempo e os sintomas da depressão retornavam: desânimo, instabilidade emocional, tristeza profunda, insônia ou muita sonolência, ansiedade, compulsão alimentar e a inevitável vontade de não existir. Interrompi diversos cursos e me sentia perdida nesse mundo.

A gravidez, em 2011, mudou completamente minha forma de ver a vida. Mas também me mostrou que a vida de uma mãe não é fácil e a partir dali nascia uma mãe. Os "amigos" se afastaram, a faculdade foi interrompida e a vida profissional não andava. Eu me tornei uma mãe solo

Comecei a sentir muito medo de sair na rua, tinha impressão de que eu morreria a cada esquina. Deixei de sair, ir a festas e me divertir. No início achei que era pela questão do envelhecimento - eu já não era adolescente, não sentia tanta necessidade de sair todos os finais de semana e agora também tinha um filho... Até passar meses sem sair de casa e, quando tentei sair, voltei pra casa com um medo que me devastou. 

A depressão não tem uma única face. Eu não estou triste o tempo todo, também passo por momentos de extrema raiva, euforia e ansiedade. Por causa disso comecei a tomar medicação - mas esse é assunto para outro post.

Somente em 2017, mais de 10 anos da minha primeira crise, é que eu comecei a sentir o efeito da terapia com a psicóloga. Semanas atrás me sentei no sofá para chorar, porque eu já nem me lembrava como era a sensação de estar em paz. Sei que ainda tenho muito chão pra caminhar em busca do autoconhecimento e do controle dessa doença. O primeiro passo foi aceitar que eu tenho depressão e que lutar contra ela é muito pior.

Muitas coisas ajudaram a me manter viva, além do meu filho. Nos próximos posts falarei sobre como a depressão influencia na maternidade, a adaptação às medicações e sobre como é importante ter uma rede de apoio, mesmo que virtual. 

Doenças mentais existem não por falta de fé, falta do que fazer, louça para lavar ou qualquer outra desculpa que as pessoas inventam para desmerecer uma doença que afeta boa parte da população. Espero contribuir nem que seja um pouquinho para amenizar o preconceito em relação a saúde mental, tão importante quanto fazer exames regularmente ou agendar um dentista. A gente precisa falar sobre isso de forma não estigmatizada e livre de preconceitos.


Ouvir as pessoas é sempre um bom remédio. Se quiser conversar sobre o assunto, estou à disposição através do Facebook. Até a próxima!

Lembro de um comercial que dizia "quando nasce um bebê, nasce também uma mãe". É impossível contestar as mudanças dentro da gente que começam a partir do momento que descobrimos a gravidez. Mas vou além: o nascer de uma mãe é também um ato político.

Figura ilustrando mãe e filha, com o título Como Nascem as Mães



É assustador pensar que dali pra frente você deixará de ser vista como um ser independente de sua cria - sim, infelizmente isso acontece. O nascer de uma mãe é um processo doloroso, constante e praticamente interminável. Perdi a conta de quantas vezes eu chorei desde a gestação do meu filho, hoje com 5 anos. Não sei quantas vezes ainda vou chorar, seja de medo, solidão, ansiedade, alegria ou preocupação.


Depois de ter filho, você se cansará de ouvir "E a criança, tá com quem?" quando resolver sair pra se divertir (isso se conseguir sair). Numa entrevista de emprego: "com quem ficará seu filho quando você estiver trabalhando?", sendo que a mesma pergunta não é direcionada aos candidatos homens. Isso sem falar nas tantas vezes em que nossos direitos são violados nos hospitais, maternidades e na saúde pública em geral.


Ser mãe é andar numa rua florida cheia de pedras pelo caminho. Sem romantização por aqui. Amo meu filho mas não escondo de ninguém que a maternidade foi a escolha mais solitária que já fiz. Não existe "dom para a maternidade". Existe aprendizado, escolhas, processos e muitas dificuldades. Eu nunca mais enxerguei as mulheres da mesma forma, porque nunca sabemos ao certo o que aquela mulher-mãe enfrentou até aqui. Nenhuma criança vem com manual de instruções e se já é difícil lidar com um adulto, imagine com um ser que está aprendendo a existir nesse mundo.

Muitas vezes os relatos da maternidade real ficam restritos aos grupos de apoio no Facebook, porque ninguém de fora entenderia esse furacão silencioso dentro da gente. E sinceramente eu estou bem cansada de precisar falar sobre o assunto por baixo dos panos. É conversando que a gente se conhece e se ajuda ao mesmo tempo. Se não for pra ser assim, não tem sentido continuar escrevendo!